Tao 道 - Caminho da espontaneidade
Na sociedade ocidental, onde tudo é meticulosamente planejado e articulado, onde ficou nossa espontaneidade? Afinal, o que deseja nos dizer essa escola milenar de pensamento, que tanto iluminou o Oriente, e que aos poucos vem angariando adeptos fervorosos no Ocidente, inspirando filósofos e teólogos?
O Tao é identificado como o Absoluto, que por divisão, gerou o Yin e o Yang, os opostos, e ao mesmo tempo complementares, que formam todas as coisas que existem no Universo.
À semelhança do Hinduísmo, e do Budismo, o Taoísmo se interessa pela sabedoria intuitiva, e não pelo conhecimento racional. É um caminho de libertação do mundo, compreendendo e respeitando a profunda sabedoria que guiou a espécie até aqui.
Então, como foi que chegamos a tão intenso desequilibrio com o Tao? Onde foi que o Ocidente se perdeu? Haverá meio de retornar a esse equilibrio?
Somente a união entre Religião, Arte, Filosofia e Ciência num mesmo ideal garantirá o equilibrio cósmico. Portanto, os quatro pilares do conhecimento humano, que separados geraram desarmonia, juntos mostrarão o caminho da harmonia. Esse é o Caminho da Síntese. Comecemos por analisar a Ciência.
Na Medicina tradicional Chinesa, toda doença é sinal de desequilibrio entre o Yin e o Yang. O equilíbrio do corpo é mantido através do fluxo equilibrado do Qi (ch´i) dentro dos meridianos. E os pontos de Acupuntura servem para tratar estes desequilíbrios. Também são utilizadas técnicas de meditação (Tai Chi Chuan, Liang Gong, Chi Kun), e massagem (Tui Na, Do in) como fonte de terapia, e a fitoterapia ainda é o principal recurso de tratamento das doenças mais comuns na China. A Medicina curativa na China é considerada a falência da Medicina Preventiva, uma derrota do médico.
Enfim, Fitoterapia, dietoterapia, meditação e Acupuntura são os principais recursos utilizados pela sociedade chinesa há milhares de anos, e ao contrário do que poderíamos esperar, ela está cada dia mais numerosa e influente.
Então, se tal conhecimento permitiu a sobrevivência e a manutenção desta sociedade, onde o conhecimento Ocidental chegou a bem menos que 70 anos, o que nos pode ensinar esta cultura fabulosa? Por que nos desenvolvemos em pólo tão oposto? Estaríamos aí também confirmando a teoria do Yin e Yang?
Vejamos o que ocorreu conosco...
Até pouco tempo atrás, o conhecimento humano era unificado e integrado à vida prática. Arte, ciência, filosofia e religião eram os pilares de um conhecimento único, confundindo-se, misturando-se, sem cisões, ou limites rígidos e bem definidos. Basta estudarmos algumas culturas antigas, para descobrirmos que índios, hindus e até mesmo os orientais tinham uma visão mais ampla da vida... para eles tudo era interdependente, como uma rede de relações. Até aí, tudo igual.
E então, a partir do Iluminismo, a ciência deixou gradativamente de ser arte, e tb filosofia, e principalmente, religião. O conhecimento tornou-se fragmentado (Descartes).
A Medicina, considerada a Arte de curar, Sacerdócio de Abnegação e Caridade, rompeu bruscamente com a Sabedoria Antiga, dando início a uma era de experimentação científica e tecnológica, relegando ao descaso tudo que já se havia falado e praticado. Olha-se agora para um corpo doente, buscando culpados e soluções rápidas e fáceis para eles. Primeiro, os Miasmas, depois as bactérias, fungos, vírus, agentes externos. Agora, a genética determinista e irremediável... Interação de Genética, Meio e Sistema imunológico formam a teoria de adoecimento mais aceita atualmente. Surge então, a Indústria Farmacêutica, poderosa, milionária, capaz de convencer a todos que para qualquer coisa há uma pílula milagrosa, que curará sem grandes dificuldades e sem exigir grandes sacrifícios. Fácil, cômodo, banal.
A Medicina passou então a cuidar da doença, e não do doente. O médico, que antes representava papel de profundo respeito e confiança, passou a ser visto como frio, calculista, e até cruel... Incapaz de sequer ouvir o paciente, com tempo reduzido ao insuficiente para sua consulta, irritado com o excesso de trabalho, e má remuneração, destruiu voluntaria ou involuntariamente a sagrada relação médico-paciente. E a Arte, a Filosofia, a Religião? A grande maioria dos médicos sequer tem a coragem de abordar tais assuntos, e se vê constrangida ao falar de fé em seus consultórios, como se fosse assunto proibido pelo decreto Placebo.
O que ocorreu?
Esqueceu-se que a Medicina tem aproximadamente 250.000 anos, o mesmo tempo que o Homo sapiens surgiu na Terra. E que a ciência praticada hoje no Ocidente, tem apenas 300 anos...
A Medicina sempre foi praticada, seja por pajés, sacerdotes, feiticeiros, filósofos, curiosos que se dedicavam ao aprendizado... e apesar disso, em toda sua história, ela usufruiu de grande prestígio e respeito. Um mixto de Temor e Admiração acompanhava aquele que se aventurasse no aprendizado desta Arte.
Quais interesses são tão fortes assim, capazes de inverter uma história tão bela e magnífica como a da Medicina? Apenas um. Dinheiro. Ainda as 30 moedas de prata que compraram o solo de sangue...
Tudo parece perdido? Não. É apenas a força portentosa do Tao em ação!
Novamente o Tao se mostra, e brotam por todos os lados novas correntes de pensamento, que começam a invadir os meios universitários, despertando a curiosidade e o interesse de renomados professores... Acupuntura e Homeopatia são apenas os mais importantes e magníficos exemplos de técnicas que anteriormente eram desprezadas, e que agora adquiriram respeito e reconhecimento das entidades médicas e da sociedade. A fitoterapia, embora sempre perseguida pela indústria farmacêutica, insiste em permanecer na cultura de todos os povos, e a suscitar curiosidade e pesquisas da própria indústria... Ainda bem!
Ainda que diferentes, a Medicina Ocidental e a Medicina Oriental mostraram na teoria do Tao, serem pólos de um mesmo caminho. Parecem incompátiveis? Isso é mera ilusão. Próton e elétron, embora com cargas elétricas diferentes, juntas formam um átomo. Um sem o outro são apenas partículas dispersas no Universo do microcosmo.
Jociane Neves Negrão
Médica – Especializanda em Medicina Tradicional Chinesa (Center AO)
Aluna do 2º ano de Teologia Umbandista (FTU)